23/08/2012

O som da imagem: tão importante quanto o vídeo



Cena do filme "A Noviça Rebelde" Dir. Robert Wise - 1965 - USA

Você terminou de editar seu vídeo. A captação ficou belíssima. O DP caprichou nas tomadas. A cor e o foco estão perfeitos. A edição ficou maravilhosa, cativando o olho do seu cliente. Mas e o áudio? Ele está a altura da imagem do seu vídeo? Não estou falando da trilha sonora que você colocou. Tenho certeza que tomou todo o cuidado para casar cada take, cada efeito com o ritmo da musica. Mas os diálogos estão claros? A sensação psicoacústica dos canais está correta. Se fechar os olhos e escutar somente a banda sonora seu cliente conseguirá “ver” a cena toda passando em sua imaginação?


Como alguém já disse, a maldição do audiovisual nacional é o som. Melhorou muito, mas aqui e ali vemos produções caras e com grande visibilidade serem comprometidas por um áudio mal captado e pobremente editado. Parece que os editores não dão muita atenção a esse pequeno grande detalhe. Filme ou vídeo não se sustentam apenas com fotografia e edição impecáveis. O áudio, em certos momentos pode significar quase 100% de sua estória. E pode por a perder todo o esforço de produção.

Lembra que eu citei o termo psicoacústico ali atrás? O que vem a ser isso? Entramos na era do HD e já estamos avançando para a Super Alta Definição. Mas o som parece estar na idade da pedra. É impressionante que mesmo as grandes redes de televisão ainda não tenham se dado conta que os dois canais estéreo e o Dolby Digital 5.1 ou 7.1 existam. Somente os filmes em BluRay e DVD vem, na maioria das vezes, com esse formato de áudio disponível e bem masterizado.

Mesmo o cinquentenário estéreo em dois canais (na verdade, para mim, ainda imbatível e superior aos 5.1 e 7.1 da vida) de que qualquer câmera mediana é capaz de captar é ignorado na hora da captura, pela maioria dos diretores. Quando muito, se importam em usar um bom microfone e só. Espetou o lapela no entrevistado ou colocou a vara de boom sobre ele e já está bom. Isso quando não usam o microfone interno da câmera. Depois é aquela choradeira e porque não dizer, chiadeira.

Evitar o ligar a câmera na rede elétrica sempre que possível, utilizar bons cabos blindados e balanceados e o melhor microfone para cada ocasião, são coisas raras. E a captura de áudio no entanto talvez seja mais difícil, complexa e cheia de detalhes do que a captura da imagem. Aqui no blog mesmo, nunca recebi uma pergunta sequer sobre áudio. Parece que estamos na era do filme mudo, que aliás, sempre foi muito bem resolvido em termos de passar a mensagem pretendida pelo diretor.

Assim como o vídeo, é possível corrigir defeitos e deficiências, ocorridos na captura, na horada edição e finalização. Mas os resultados nunca ficarão perfeitos e o tempo gasto na recuperação sempre será prejuízo. Para ambos, o melhor é captar com a maior qualidade possível. Agora arranje um fone de ouvido e assista o vídeo abaixo. Trata-se de um registro da gravação de algumas músicas do Professor Paulo Pereira para compor um DVD educativo que estamos produzindo para a Universidade de Brasília. Nessa gravação o importante era o áudio. As imagens foram somente para guardar. As músicas foram captadas com 4 canais e pelo microfone da Sony NX5. Nesse primeiro exemplo deixamos o áudio apenas captado pelo microfone externo da câmera. Observe as imagens e escute com atenção

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A primeira vista, ou para o ouvinte leigo, o áudio pode parecer adequado. O volume não está baixo demais e as vozes e instrumentos aparecem claramente na gravação. Mas o  que você notou? Existem chiados, sons de fundo atrapalhando? Existem ruídos de indução elétrica (humming)? O peso dos diversos instrumentos e vozes está corretamente balanceado? Assista e ouça a seguir o segundo exemplo. Para efeito estético usei um filtro de imagem para dar um ar de vídeo antigo dos televisores preto e branco. Porém o que nos interessa é o áudio. Ouça:




Quais foram as principais diferenças em relação ao áudio anterior? O mais marcante é que a equalização mudou. Foi introduzida uma ambiência que não existia no estúdio, pois o que vai para o DVD é apenas o áudio e, sem o vídeo, o som flat não faria sentido, pois o ouvinte não poderá ver que os músicos estão executando a performance em um ambiente sem reverberação. E o que mais? Assista novamente memorizando a posição de cada músico e instrumento. Feche os olhos e escute. Você consegue perceber nos fones que a posição psicoacústica confere com a posição dos músicos em cena?

Essa segunda equalização pode até ficar meio estranha quando escutamos o áudio junto com o vídeo, pois nosso cérebro nos informa que a ambiência introduzida não condiz com o tamanho do ambiente. Com certeza teríamos colocado menos reverberação se fôssemos incluir no DVD áudio e vídeo. Porem a posição espacial dos instrumentos e vozes na trilha sonora seria a mesma. Tenho visto programas transmitidos em 2 canais na televisão que muitas vezes a voz do locutor aparece posicionada no alto-falante inverso a posição física dele na cena. Talvez seja o tipo de detalhe que o espectador nem se dê conta. Mas imagine esse erro em uma grande sala de cinema. O personagem entra em quadro pelo lado direito da tela e o espectador escuta seus passos ou sua voz nas caixas de som na lateral esquerda da sala de projeção.

Felizmente eu nunca presenciei nada desse tipo, mas se houvesse um erro desses com certeza uma cena dramática despertaria gargalhadas na platéia, tirando totalmente a atenção do público para a estória e contribuindo para que esse acabasse não achando o espetáculo tão interessante. Devemos nos dar conta que hoje quase todo mundo tem uma televisão de tela grande, onde os autofalantes esquerdo e direito ficam distantes um do outro, ou mesmo sistemas de som em vários canais. Então qualquer erro de posicionamento ou ruído estranho ao vídeo vai ser bastante notado. Então dana sua próxima captura não se esqueça que o som de seu DVD ou BluRay, ou mesmo um vídeo para web será estereofônico e que sua câmera tem dois canais de áudio separados. Use isso a seu favor.

Grande abraço a todos!

Marcelo Ruiz

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